“A mecanização agrícola nunca vai chegar aos ribeirinhos. Tem lugar que não entra trator de pneu ou de esteira”, afirma.
João Maurício
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Tarauacá, Manoel Cumarú, é o novo presidente da Fetacre (Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Acre) a maior representação sindical do Estado, com 45 mil associados de um universo de 140 mil agricultores.
Ele teve o apoio da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) que acabou derrotando o candidato Rosildo Rodrigues de Freitas, do STR de Brasileia, apoiado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores).
“Não houve rompimento dos trabalhadores com a CUT, foi a entidade quem rompeu com a categoria quando decidiu partidarizar a eleição discriminando nossa candidatura. A partir daí passamos a dialogar com a CTB”, afirma Cumarú. Rosildo alega que houve fraude e vai denunciar o processo eleitoral ao Ministério Público Estadual.
“A eleição de Cumarú representa uma retomada da representação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais para a construção de uma nova política agrícola em parceria com o Estado, mas com autonomia do movimento”, avalia José Chaves, presidente da CTB.
“Houve uma ruptura com o modelo de política que havia dentro da Federação, que desde sua fundação foi se acomodando e se distanciando das causas do trabalhador rural”, argumenta.
David Wylkerson, vice-presidente da CTB nacional e secretário-geral da Contag, acompanhou todo o processo eleitoral até o Congresso que culminou com a vitória de Cumaru neste sábado.
“Houve um empenho e participação de todos os sindicatos de forma valorosa que permitiu um intenso debate em torno do processo. A vitória da chapa apoiada pela CTB tem um significado elevadíssimo diante da repercussão que se dará a nível nacional como também vai se somar a estratégia de ampliação da CTB na região Norte que até então no segmento rural tinha a hegemonia absoluta da CUT”, avalia David.
Segundo ele, 45% das categorias filiadas à CTB são de sindicatos de trabalhadores rurais das regiões Nordeste, Sudeste e Sul e Centro Oeste. “Com a vitória no Acre começamos a ampliar nosso espaço no Norte, onde temos filiados apenas no Pará e Tocantins. Assim consolidamos, também, nossa presença no cenário nacional”, comenta.
Cumaru contou com o apoio de delegados de 15 sindicatos de trabalhadores rurais municipais. O racha ficou evidenciado logo na eleição dos delegados. Cada município teve o direito de enviar até seis representantes.
Maria de Fátima Rocha Alves e Silva, por exemplo, foi eleita pela base para ser delegada do STR de Plácido de Castro, numa assembléia com quase 200 trabalhadores.
“Os outros cinco, ligados à CUT, tentaram impugnar minha eleição depois de apurados os votos”, revela. “O presidente da mesa eleitoral, José Janes, teve que intervir”, comenta. “O clima era de guerra, truculência mesmo em meio a um churrasco pago pela chapa da situação”, lembra Janes.
O novo presidente da Fetacre recebeu apoio de delegados de 15 municípios e de um dos dois sindicatos de Rio Branco. Marechal Thaumaturgo, Santa Rosa do Purus, Jordão, Feijó, Manuel Urbano, Xapuri, Capixaba, Plácido, Porto Acre, Acrelândia, Senador Guiomard, Tarauacá e Cruzeiro do Sul deram vitoria esmagadora a Cumaru, 39 anos, que nasceu no seringal Paraíso, a 3 dias de barco pelo rio Muru, em Tarauacá.
Seu discurso defende uma revisão no modelo de agricultura familiar programado pelo Governo do Estado. Segundo ele, a imposição do Fogo Zero pelo Ministério Público Federal obriga rapidez para a substituição das queimadas como técnica de preparo do solo para a agricultura.
“A mecanização agrícola nunca vai chegar aos ribeirinhos. Tem lugar que não entra trator de pneu ou de esteira”, afirma.
Cumuru afirma que o Governo tem recebido informações muito falsas do setor rural. “A Fetacre foi se apagando em seu papel que deveria ser de consultoria, de participação. O manejo de madeira, por exemplo, não alcança nem 5% dos agricultores.
O programa de piscicultura nem 5%. Nós queremos ser parceiros do Governo, reconhecemos o esforço sobre humano do governador Tião Viana, defendemos o projeto político da Frente Popular, mas queremos ajudar mais”, disse.
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